Jogo de cadeiras e o tabuleiro do poder
Backes exonerou dois secretários de seu próprio governo, Marciane Specht (União Brasil), da Saúde, e Marciel Escher (Republicanos), da Agricultura, para que retornem à Câmara Municipal e reforcem sua tropa de choque contra o projeto. No lugar deles, os suplentes Rodrigo “Verde” Pulga e Cristiano “Suko” Metzner deixam o plenário pois deixaram claro que não iriam contra a vontade popular e Backes não poderia contar com eles nesse pleito então foram sacrificados em nome da lealdade ao povo.
A jogada foi publicada em edição extra do Diário Oficial, o que demonstra a pressa ou o desespero do prefeito em garantir maioria na votação decisiva da próxima segunda-feira (20). Segundo fontes próximas do Legislativo, o recado foi dado: quem não votar contra o projeto está convidado a deixar o governo.
A democracia, pelo visto, virou apenas um detalhe incômodo no script político de Backes.
O prefeito do presídio
A insistência do prefeito em remar contra a maré popular já lhe rendeu um novo título nos bastidores da cidade: “O Prefeito do Presídio”.
E, convenhamos, não é exatamente o tipo de apelido que um gestor sonha em carregar.
Mesmo depois de a Câmara ter aprovado o projeto em primeira votação no dia 13 de outubro, com ampla maioria e apoio de nove vereadores, Backes parece determinado a desafiar a população e transformar um gesto de resistência popular em uma queda de braço política.
É uma aposta alta e perigosa.
Ao tentar vencer no voto dentro da Câmara, o prefeito corre o risco de perder de forma irreversível no tribunal da opinião pública.
Quando o governo vira o próprio fogo
A ironia é que, ao manobrar para barrar o projeto, Backes coloca seus próprios aliados na fogueira.
Marciane e Maciel, até então secretários de confiança, retornam ao Legislativo para cumprir uma missão política ingrata: votar contra um projeto popular que representa o desejo explícito da comunidade.
O governo, que já cambaleava em crises de imagem e enfrentamentos internos, parece agora testar os limites do bom senso.
O que deveria ser uma administração voltada ao diálogo com a sociedade tornou-se um campo de guerra pessoal, onde quem ousa discordar é afastado, substituído ou descartado.
A derrota que pode virar vitória mas não para o prefeito
Backes já acumulou reveses recentes, como a tentativa frustrada de afastar a vereadora Tânia Maion, que emergiu como uma das principais vozes críticas à atual gestão.
E, ao que tudo indica, o novo embate deve fortalecê-la ainda mais.
Mesmo que o prefeito consiga, numericamente, barrar o projeto, o custo político será devastador.
A população que se mobilizou, assinou e acompanhou cada passo dessa iniciativa não esquecerá quem votou contra o que ela defendeu.
E quando a próxima eleição chegar, talvez o prefeito perceba que nenhum voto de gabinete é capaz de calar o eco de 5 mil assinaturas.
O recado que o povo tenta dar
O PLIP 1/2025 não é um capricho.
Ele representa o esforço coletivo de uma comunidade que, de forma democrática e organizada, disse “não” à construção de um presídio em sua cidade.
O texto não impede soluções alternativas permite, inclusive, a criação de uma Delegacia Cidadã, moderna e adequada, para substituição da cadeia atual, localizada no centro.
Em outras palavras, o projeto não fecha portas. Apenas impede que o Município se transforme em depósito de detentos, em vez de investir em políticas de segurança pública e reestruturação carcerária planejada.
O peso do poder
Quando o prefeito usa o cargo para desafiar a vontade popular, o poder deixa de representar o povo e passa a servi-lo de escudo.
Adriano Backes ainda pode ouvir mas prefere impor.
E, se continuar assim, talvez descubra que o verdadeiro cárcere não é o presídio que tenta trazer à cidade, mas a prisão política que constrói para si mesmo.
Um documento de 29 de abril de 2024 mostra que Backes, Vanderlei Sauer e Claudinho Kohler foram os autores do requerimento que abriu caminho para o presídio.
O que era vendido como “modernização da segurança pública” hoje simboliza traição política e desprezo pela voz popular.
Votaram a favor do projeto (contra a doação de área para presídio):
Gordinho do Suco
Iloir Padeiro
Juca
Juliano Oliveira
Rafael Heinrich
Sargento Spohr
Cristiano “Suko” Metzner
Tânia Maion
Rodrigo “Verde” Pulga
Votou contra o projeto:
Fernando Nègre
Abstiveram-se:
Carlinhos Silva
Coronel Welyngton
As informações apresentadas nesta reportagem foram obtidas a partir de fontes oficiais dos portais de transparência da prefeitura e câmara de Marechal Cândido Rondon.
Os dados podem ser consultados publicamente pelos cidadãos através dos seguintes endereços: www.marechalcandidorondon.pr.leg.br e marechalcandidorondon.atende.net.
O Toledo Urgente reforça seu compromisso com a apuração rigorosa dos fatos e com o acesso irrestrito à informação pública.
Fonte: Portal Rondon.
Foto: Portal Rondon.
